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Archive for 30 de outubro de 2009

Ana, 18, mora perto de uma obra. Todos os dias úteis, Ana passa perfume, blush, rímel, sombra, põe uma roupa que traduza o humor de seu dia e segue para a faculdade.  Mas no meio do caminho é obrigada a passar em frente a obra para que então pegue o ônibus e siga para o seu destino.

Ao passar pela obra, sempre cheia de pedreiros, é “fiu fiu” pra um lado, “gostooosa!” pro outro e “noooossa!” pra mais um lado. Às vezes os pedreiros são mais criativos e soltam um “boneca”, “tesão” ou qualquer adjetivo desse calão. Ana não se importa com o assédio, afinal, isso é normal vindo deles. E além disso, ela acha que merece os elogios!

Ao entrar no ônibus, quando há lugares vagos, escolhe o mais perto da porta e senta. Todos os seus movimentos são observados por dois ou três homens do transporte. Até mesmo as mulheres olham para os atributos de Ana. Mas ela já se acostumou… afinal, ela pensa: “Homem não pode ver um rabo de saia e mulher sempre é invejosa. Mas vejam e invejem com respeito.”

Ana salta do ônibus, caminha por um tempo, chega a faculdade e o dia segue normal.

No dia seguinte, Ana decide colocar a roupa nova que ganhou de aniversário: um vestido vermelho bem colado no corpo e com uma calça leg branca por baixo. Ela não aguentava mais olhar pro vestido e ter que esperar uma festa para usá-lo. Enfim, com seu rosto já maquiado, Ana o vestiu. Suas curvas ficaram mais visíveis.

Ela passou pela obra e os gritos e assovios começaram. Os olhares eram bem mais intensos. As cantadas mais frequentes. E quentes. Meninos e meninas de 15 anos até velhos de 60 anos, analisavam os “trajes” da moça fixamente. Mesmo assim, Ana não se incomodou. Seguiu seu caminho até chegar a faculdade. Mas resolveu tirar a leg que estava por baixo do vestido, pois a mesma havia furado. O vestido ficou sem proteção, assim como Ana e suas pernas.

Na faculdade, os colegas, homens e mulheres, começaram a gritar como os pedreiros, mas com mais fervor e vivacidade. Ao invés de elogios, surgiram xingamentos. E com isso Ana não estava acostumada mas continuava a pensar “Homem não pode ver um rabo de saia e mulher sempre é  invejosa! Mas vejam e invejem com respeito.”

Fogo, inveja, atração, desconforto, preconceito, desejo, espírito de bagunça. Nada justifica a falta de respeito com Ana. Ela pode usar o que quiser. Pode ser quem quiser, desde que não faça mal aos outros. E um vestido não faz mal a ninguém. Ana só precisa ter consciência da atenção que chama, estando ou não acostumada.

*“Ela colocou em risco o campus. O pessoal começou a subir na janela para vê-la. É imprudência, não tem uma lógica para fazer isso.” Não tem lógica pensar desse jeito. O conto que escrevi é fictício, mas foi quase isso que ocorreu na vida real. Pra quem ainda não sabe do que estou falando … clique aqui!

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