… é. Entrei, rodopiei pelos mais vendidos e confesso, analisei-os com pouca atenção e um tanto de desprezo. Titubiei por Saramago e Garcia, mas ainda não era o meu desejo. Não tem jeito. Não procurar por Nelson é inevitável. Fui até ele e me senti realizada a cada título encontrado, a cada página descoberta, virada e revirada. Em breve, serão desvendadas mais 605 folhas de papel offset de “A vida como ela é”. A vida de Freitas, Seu Alfredo, Bebeto, Moema, Pimentel, Marcondes, Dona Branca e muitos personagens, se tornará meu passatempo. E o sorriso de canto em minha boca com os dizeres fincados também nela, serão: “só você consegue, Nelson, só você.” Só Nelson para fazer dos personagens, os nossos espelhos, os que carregam os nossos medos e as nossas vontades mais profundas.
“A primeira cliente que se submeteu à psicanálise do Bebeto foi uma grã-fina, loira e linda, que pagou as duas mil pratas da sessão, com lânguida naturalidade. Estava, ali, porque, 15 dias atrás, enfiara um cigarro aceso na vista de um gato, cegando-o. Fumando um outro cigarro, e com divertida curiosidade, perguntava ao jovem médico, dono do consultório tão bonito:
– Isso quer dizer o quê?
Durante um longo, um infinito minuto, ele não respondeu nada. Súbito, estendeu a mão:
– Quer me ceder, um momento, o seu cigarro?
Sem compreender, a grã-fina atendeu. Ele arremessou-se, então. Dominou-a rapidamente. Calcou, num dos seus olhos azuis e lindos a brasa do cigarro. Largou-a, cega, enchendo o edifício com seus gritos. Quando arrombaram a porta e invadiram a sala de psicanálise, ele, de braços cruzados, esperava, sem medo e sem remorso. Primeiro, foi levado para a delegacia. Depois, tiveram que interná-lo.”
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